Apesar disso, as provocações que o professor de história da Universidade Hebraica de Jerusalém delineia não ficariam mal em uma estante ao lado de “Brave New World“, de Aldous Huxley, e “Do Android Dream of Electric Sheep“, de Philip K. Dick. O livro de Dick, inclusive, é conhecido por inspirar outra produção ficcional pautada pela tecnologia do futuro – Blade Runner, que este ano ganha uma nova versão nas telas do cinema. Harari é também é autor de Sapiens – Uma breve história da humanidade. Com mais de 2 milhões de cópias vendidas, a ótima recepção do livro o credenciou para outra empreitada. Se em Sapiens o assunto era o passado, em Homo Deus ele se volta para o futuro. Harari não concorda com a facilidade com que as pessoas abrem mão de seus dados e privacidade para a pletora de aplicativos e sites que nos rodeiam. Crítico da idolatria do Big Data e do status que a informação ganhou nos dias de hoje, em seu livro ele aborda preocupações sobre as implicações desse modelo de ciência para a vida prática.

Homo Deus e o futuro da tecnologia

Uma das questões centrais de Homo Deus é a pergunta: Seriam os organismos vivos meros algoritmos e a vida apenas um processamento de dados? Segundo o autor, é esse o dogma atual no meio científico. Mas ainda há uma lacuna que falta ser decifrada: A consciência e a subjetividade. É principalmente nessa lacuna que o livro traça sua ideia principal. Acredita-se que a tecnologia é libertadora e tem tornado as ideologias, religões, mitologias e ficções menos importantes ou meros entretenimentos. De acordo com o livro, é exatamente o contrário. As novas tecnologias potencializam a capacidade de criar ficções e ideologias. Praticante sério da meditação Vipassana, Harari conta nessa ótima entrevista concedida à TV Folha que a mente constantemente cria realidades ficcionais que acabam por ditar nossos sentimentos e ações. O fato delas estarem, na maioria das vezes, em extremidades opostas à da vida real, é um grande fator de estranhamento existencial. Ao potencializar a capacidade ficcional, e não a capacidade de se ater ao real, o aparato tecnológico reforça sentimentos de desconexão e angústia. Uma bela provocação para uma sociedade em que reina a tecnologia, e também epidemias de depressão, disfunções psicológicas e fanatismos de todos os tipos. A inteligência artificial, Big Data e a biotecnologia possuem um lugar especial no livro, tanto pelo que representam na indústria e sociedade atual como por suas capacidades de incitar novas possibilidades e crenças.

Velhos ensinamentos voltam à tona em Homo Deus

O universo por si só já nos causa angústia. Sentimento de náusea, de ser um estrangeiro insistentemente em terra alheia, ainda que seja sua casa. Não à toa Sartre e Camus intitularam alguns de seus melhores livros com essas palavras “O estrangeiro” e “A náusea“. Longe de lançar pessimismos gratuitos e críticas sobre o avanço tecnológico, Harari vai por outra linha. Em tempos em que cedemos facilmente e gratuitamente nossas informações, livro e autor retomam velhas recomendações que passaram por pessoas como Buda e Sócrates. Para colocar a tecnologia a serviço de nossos objetivos e vida, é preciso que saibamos quais são nossos objetivos e por que estamos aqui (ainda que não no sentido universal, mas mais subjetivo e pessoal). Do contrário, seremos nós a servir os gadgets e algoritmos, e não eles a nós. Fica a recomendação do livro e da apresentação abaixo no Tedtalks do autor de Homo Deus.

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