Existe um certo encanto por parte dos espectadores, entusiastas do gênero de terror ou não, por histórias que envolvam algum tipo de competição. Foi dessa forma que Jogos Mortais conquistou o público, assim como outras produções que envolvem disputas, como Jogos Vorazes e Jogador Nº1 – não coincidentemente, todos eles com “jogo” no título ou na temática. Round 6 é uma série de suspense que replica alguns estilos já conhecidos no horror e no gênero de tortura e consegue o êxito por trazer personagens sólidos de uma maneira que não sejam rasos.

Um jogo que vale bilhões

Conhecido também como Squid Game, Round 6 é um K-Drama da Netflix que apresenta um jogo de sobrevivência cujo vencedor leva uma grande quantia em dinheiro. Os participantes são cidadãos sul-coreanos que são apostadores ou estão passando por algum tipo de dificuldade financeira. O que não é explanado a eles é o quão mortífero o jogo se torna já no primeiro dos seis rounds. A primeira coisa que chama Round 6 chama a atenção é sua escolha de não focar apenas no jogo em si. Apesar de ser o mote principal da história, o diretor Dong-huyk Hwang oferece ao espectador a oportunidade de conhecer muito mais por trás dos personagens principais que estão envolvidos no tal game. Inclusive, este é provavelmente um dos motivos pelos quais a série está fazendo tanto sucesso mundialmente, caminhando para o show mais visto da plataforma de streaming. Simplesmente porque há uma boa construção de figuras e o público se vê torcendo por elas mesmo sabendo de seus passados conturbados. A cada participante eliminado do jogo — e, quando se diz eliminado, é eliminado mesmo — maior é o prêmio arrecadado até a última rodada. Todos os rounds são fundamentados em um tópico específico (este ficará a seu cargo para conferir pessoalmente na série) e traz uma interessante contradição entre a leveza da ideia e o horror das resoluções mortais. Do ponto de vista narrativo, a série consegue fazer o que precisa ser feito e de maneira perspicaz, prendendo o espectador em todos os nove episódios até o mesmo descobrir o que acontece no fim dessa jornada macabra. Há também a relação do jogo em si como um sistema de opressão em que, em diversos momentos, fica clara a intenção do diretor em criticar a maneira como a sociedade trata pessoas em situação de fragilidade. Reforçando esse tópico, a série escolhe ir pelo caminho contrário ao de Jogos Vorazes e, por exemplo, põe os personagens em uma situação de mercê ao sistema ao invés de colocá-los como revolucionários contra ele. As cenas de gore existem, mas, dentro desse contexto caótico, elas fazem sentido e dão o toque tenso que exige o horror. Outro momento interessante da série é a apresentação das camadas do enredo. Enquanto acontece o jogo, outros fatores são acompanhados simultaneamente e trazem dinamismo para a história.

Identidade visual marcante e empatia com os jogadores

Particularmente, duas coisas ficam bem visíveis quanto ao caráter viral da série. A primeira delas é a identidade visual bem marcante. Mesmo que você ainda não tenha visto Round 6, muito provavelmente você já viu a boneca de um dos jogos por aí nas redes sociais. Cada jogo tem um esquema e regras próprias, que só são revelados aos participantes apenas na hora do embate. Todos os cenários são bem imersivos e casam bem com a proposta de cada desafio. Na verdade, não só os locais de embate, mas o próprio ‘saguão’ de espera tem uma forte identidade mesmo com uma decoração simples. Tudo isso é válido para a memória que os espectadores criam dos jogadores. A segunda característica que eleva a série ao mainstream é a sua capacidade de tornar o público empático com os jogadores. Como dito anteriormente, as figuras principais têm o seu desenvolvimento de maneira que o público torce por eles e não apenas esperam a sorte aparecer a seu favor. Dentro do universo da série, os personagens são chamados por número, sendo os mais recorrentes: Seong Gin-hun (456), Kang Sae-byeok (067), Cho Sang-woo (218) e Jang Deok-su (101). A relação deles entre si e com outros jogadores é bem atrativa de se assistir. A internet com certeza já tem os seus favoritos, mas cada membro do núcleo principal ou secundário funciona bem para que o suspense da série se prolongue até a resolução da trama. O episódio que mais reforça isso é quinto, “Gganbu“. Não é à toa que é o episódio mais bem avaliado no IMDb, com 9.4 pontos. É ali onde as atuações mais brilham.

Os deslizes do K-Drama

Tendo em vista todos os lados positivos de Round 6, há alguns momentos que os deslizes não escapam da visão do público. A começar pelas pontuais conveniências de roteiro, embora nada chegue perto de estragar a experiência. Em especial, uma delas que é bem discernível e acontece mais ao fim da série. O destino de dois personagens não fazem jus às suas trajetórias durante todos os episódios. E isso não é nenhuma espécie de favoritismo, mas sim o reconhecimento de uma clara e preguiçosa solução que os produtores encontraram para contemplar um final já esquematizado nesta temporada. Alguns ganchos não são bem esclarecidos e a série parece saber descrevê-los muito bem no início, mas não a resolvê-los no fim. Dado o caráter viral de Round 6, é provável que a Netflix busque a renovação para uma próxima temporada. Se este for o caso, será mais uma vez em que uma série de temporada é estendida sem necessidade — e a pedido de ninguém.

Vale a pena assistir Round 6?

A resposta é sim. Existem muitos virais na internet de qualidade questionável, mas este não é o caso. Round 6 é uma série de boa qualidade que sabe o que quer e como quer contar sua história. Embora tenha pequenos deslizes, a produção consegue entregar personagens cativantes e uma história que busca fazer uma crítica através do horror das ações humanas sob a pressão do extremismo social, político e econômico. Round 6 também é a comprovação da qualidade das produções asiáticas que, nos últimos tempos, têm conquistado cada vez mais fãs brasileiros, inclusive em outras plataformas, como no cinema e na música. Alice in Borderland, outra série da Netflix, traz uma trama parecida em que pessoas precisam sobreviver em disputas de jogos eletrônicos numa versão paralela de Tóquio. Vale a pena conferir mais!

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